Às vezes me pergunto se o problema é mesmo nosso, dos professores. Será que não somos nós que complicamos demais? Afinal, “a gente” resolve tudo, não é mesmo? A gente fala, a gente explica, a gente tentamos... ops, tenta!
Lecionando para uma turma de 6º ano, já no último fôlego, cansado de tentar explicar que não se fala “nós vai” ou “nós faz” porque o verbo precisa concordar com a pessoa... joguei a toalha e disse: “bem, já que vocês não adequam o verbo ao pronome, usem o ‘a gente’, que assim vocês podem manter o ‘vai’ e o ‘faz’”.
Tentei! Vai que, né?!
Pois bem... Funcionou! Funcionou tanto que, em dado momento, um dos alunos soltou a pérola: “tio, a gente vamos descer hoje?”. Sim! Ele conjugou. Mas conjugou com o “a gente”. É nessas horas que “a gente” que ensina surta. Ou melhor… “a gente surtamos”.
E assim vai a nossa vida de professor: entre conjugações verbais e desconjugações mentais. Entre o certo e o “certinho”, entre o formal e o coloquial, entre o “nós” e o “a gente”. No fim das contas, o importante é buscar ouvi-los e entender o que têm a dizer, mesmo que seja de um jeito que faça a gramática tradicional se contorcer inteira na cadeira.
Mas confesso: toda vez que ouço “a gente vamos”, uma parte pequena de mim, aquela bem gramática normativa mesmo, morre um pouquinho. A outra parte, a que já entende as delícias da língua viva, sorri e pensa: “a gente conseguimos!”